Pr. Renato Sanches.
Usada como fonte da verdade para as diversas áreas do conhecimento humano, a Bíblia se presta a defender pontos de vista até mesmo antagônicos. Assim é que, sendo aplicada como base de doutrinas, teologias, ideologias ou interesses, os homens dela extraem os fundamentos de suas "particulares interpretações".
Como resultado dessa miscigenação de texto sagrado com casualidades humanas, descobre-se uma vasta literatura defendendo os mais diversos pontos de vista. De fato, há suficientes porções da Bíblia que nos permitem verificar que o povo de Deus viveu e participou dos fatos políticos - ativa ou passivamente - nos diversos períodos da história. Há um desfile imenso de personagens que ocuparam posições e exerceram poder político, quer tenha sido em relação ao povo de Deus como sobre nações pagãs: José, Moisés, Davi, Daniel e outros mais.
Se há evidências bíblicas e históricas no cristianismo tanto dos benefícios e como dos riscos da participação política, o que fazer, então?
Dentre muitos textos bíblicos que possam nos fornecer alguns princípios para analisar este tema, recorro ao apólogo de Jotão, em Juizes, capítulo 9. Nele encontramos algumas luzes que podem iluminar o caminho das nossas decisões políticas.
JOTÃO, O SOBREVIVENTE
Gideão, juiz de Israel durante 50 anos, é mencionado em Hebreus 11.32 como um dos notáveis homens de fé no período do Velho Testamento. Não obstante tal reconhecimento, ele é citado também como exemplo de líder do povo de Deus que cedeu às pressões da idolatria. Ele manchou o final de sua vida com uma escolha que veio a "ser um laço... e à sua casa"(Juizes 8.27). Embora Gideão tenha resistido à tentação de aceitar a criação de uma dinastia real (8.22-23), a tal estola sacerdotal que fez para si representava a tentativa de usurpação de um poder maior ainda: o de ser o intermediário divino, o sacerdote.
O laço de Gideão logo se manifesta por meio de Abimeleque, um dos filhos de Gideão. Logo após a morte de seu pai, Abimeleque assassina sessenta e nove dos seus setenta irmãos - sobrevivendo apenas Jotão, que se escondera. A ânsia de poder provocou essa dissidência e Abimeleque proclama a cidade de Siquém - de onde sua mãe era originária - como um estado independente, chegando a dominar sobre todo o Israel durante três anos.
Jotão, compreendendo que a idolatria de seu pai agora se manifestava na rebeldia de Abimeleque, proclama a verdade aos moradores de Siquém: eles deveriam refletir sobre a escolha que estavam prestes a fazer, seguindo a Abimeleque.
A VOZ DO PROFETA
O discurso de Jotão começa com uma advertência: "Ouvi-me... e Deus vos ouvirá" (9.7). Os homens de Siquém estava prontos a seguir um de seus filhos notáveis - Abimeleque - mas não compreendiam o caráter profético da condenação que pairava sobre ele. Jotão tentava adverti-los a não seguirem Abimeleque, que caíra no laço de desejar inaugurar uma dinastia real para Israel.
Gideão havia recomendado a todo Israel: "Não dominarei sobre vós, nem tão pouco meu filho dominará sobre vós; o Senhor vos dominará" (8.23). Mas as suas palavras foram abafadas pelo seu gesto seguinte, assumindo um poder sacerdotal do qual não fora investido. Quando Abimeleque mata os seus irmãos e oferece-se como "dominador", o gesto de Abimeleque falando mais alto: a sede de poder!
Depreendemos desse primeiro ponto do apólogo de Jotão que toda dominação sobre o povo de Deus não pode ser derivada de palavra humana. Antes, qualquer decisão precisa resultar de uma convocação profética para a igreja, destinada a ser sal e luz do mundo. Não devem os cristãos, individual ou coletivamente, ceder a argumentos, mas reconhecer a sua vocação profética em cada momento e lugar que vivam.
A igreja que anuncia é a mesma que denuncia. O evangelho é perfume de vida, mas também perfume de morte. E Jotão começa a descrever tal forma de compromisso.
A OLIVEIRA
Os homens de Siquém compreendiam o significado dos elementos da paisagem rural da época - motivo pelo qual Jotão apelou para uma comparação singela, que todos pudessem compreender: os homens de Israel seriam as árvores e a oliveira seria uma primeira escolha de um tipo de rei, de governante. As árvores teriam dito à oliveira: "Reina sobre nós!". Mas, esta se esquivara, dizendo: "Deixaria eu o meu óleo, que Deus e o homem em mim prezam, e iria reinar sobre as árvores?" (9.9).
A oliveira é a árvore da qual se extraía, por meio da prensagem do seu fruto, o azeite. Ela tipificava a fonte da unção do povo de Deus. Era da oliveira que vinha o caráter sagrado dos ritos e da religião, pois ela fornecia o óleo através do qual coisas, pessoas e animais eram consagrados.
A recusa da oliveira é a representação de uma posição típica do povo de Deus em todas as épocas: "Nós, os pastores, o povo de Deus, a Igreja, não devemos nos envolver nestas questões de política, de escolher quem vai nos governar. Não devemos comprometer a nossa unção". A recusa da oliveira é o posicionamento do cristão diante da política quando diz: "Isto nada tem que ver comigo, não me afeta - ou até mesmo pode me contaminar. Deus tem prazer na minha unção - e a minha pureza é também apreciada pelos homens". Certamente, o argumento é justo, mas desconhece um perigo que será explicado mais adiante por Jotão.
A FIGUEIRA
A próxima alternativa para os homens de Siquém seria a figueira.
Uma curiosidade sobre a figueira nos permite entender porque tal árvore foi utilizada por Jesus como exemplo do que o pecado provocava em Israel: ela produz o seu fruto antes das folhas, ao contrário das demais árvores. Ela simbolizava, assim, a necessidade de uma espiritualidade verdadeira (os frutos), antes de uma religiosidade aparente (as folhas).
Esta era a próxima escolha que Jotão oferecia: "Se vocês rejeitam a Deus (desejando escolher um rei), e aos seus ungidos (a oliveira), pelo menos aceitem homens espirituais (figueiras com frutos). Mas, tal figueira não se apresentou disponível, se justificando: “Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, e iria pairar sobre as árvores”? (9.11).
A recusa da figueira é, também, um sinal justo de precaução diante de outra verdade historicamente comprovada: muitos cristãos, envolvendo-se na política, perdem a sua "doçura" (espiritualidade), o seu fruto é arrancado da sua vida. Mas, é suficiente este argumento para então recusar uma chamada ao desafio de participar do ato de "pairar sobre as árvores" (governar, em algum sentido)? Igualmente, Jotão irá concluir que, não obstante a verdade do argumento da figueira em não se envolver, a sua recusa implicava em um perigo maior ainda.
A VIDEIRA
A terceira alternativa oferecida por Jotão foi a videira - uma parreira de uvas.
Há mais de uma dezena de palavras em hebraico e grego para designar o que entendemos biblicamente como videira. Este fato realça um dos símbolos da videira, em termos bíblicos: prosperidade sobre toda a nação. Isto é, o vinho - resultado de prensar o fruto da videira - é o elemento presente nas festas, o símbolo da alegria. A diversidade dos frutos expressa nas muitas expressões da língua para representar a videira - típico de cada região e clima - alude ao fato de que as videiras se espalharam sobre todo o Israel. Era, assim, a prosperidade, a alegria, a paz, a força de Israel. A videira simboliza, deste modo, a bênção de Deus repartida sobre o Seu povo, o cumprimento das Suas promessas sobre a nação obediente. É a vitória dos valores divinos sobre os valores humanos.
Quando Jotão conta aos homens de Siquém que as árvores se contentariam apenas com a videira ("bons cristãos") para "pairar sobre as árvores", também lhes fala da recusa da videira: "Deixaria eu o meu vinho (os meus valores, as minhas bênçãos, a minha prosperidade)...?
A recusa da videira representa o argumento de que as bênçãos de Deus e a prosperidade dos cristãos não devem ser desperdiçadas em "negócios deste mundo". Aparentemente, esta prudência se justificaria, mas ela ‘desconhece o perigo que, finalmente Jotão proclama’ aos moradores de Siquém.
O GOVERNO DO ESPINHEIRO
Somente ao sermos apresentados à opção do governo do espinheiro é que compreendemos que as três primeiras alternativas compunham três diferentes grupos de preferências, mais do que uma hierarquia de escolhas. Isto é, algumas árvores procuraram a oliveira; outras, a figueira; e outras mais, a videira. A ordem não especificaria uma distinção hierárquica entre unção, espiritualidade e valores. Ao contrário, as alternativas apresentadas por Jotão procuram relevar a necessidade da presença e preservação desses valores em todas as escolhas do cristão.
Mas, no caso do espinheiro, a escolha foi unânime: "...todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós". A linguagem não é mais uma amenidade - "pairar sobre nós", como que a demonstrar um certo nível de igualdade e tolerância entre as árvores. Não é um grupo aceitando um domínio consentido da oliveira, da figueira ou da videira sobre todas elas. Mais do que um consenso, o convite ao espinheiro é uma permissão expressa: "Vem tu [espinheiro], e reina sobre nós". Não há engano nessa escolha, pois a unanimidade dos participantes e a concordância de propósito atestam o caráter de uma decisão fruto de uma vontade coletiva. Jotão assim descreve como tal escolha parecia ter sido feita pelos habitantes de Siquém: "de verdade e com sinceridade" (9.16).
Diferentemente das árvores anteriormente convidadas, que centralizaram nas suas qualidades um argumento de recusa, o espinheiro realça a natureza do relacionamento que estaria por se tornar realidade. “A oliveira não quis comprometer a sua unção... A figueira declarou-se zelosa de não arriscar a sua espiritualidade... Enfim, a videira não arriscou desperdiçar os seus valores”. Mas o espinheiro, este foi ao ponto principal e disse: "Se vocês estão me escolhendo, saibam que eu vou assumir domínio sobre vocês!". Mesmo diante desta advertência, Abimeleque foi proclamado rei.
ESCOLHAS E NÃO ESCOLHAS
Uma análise simples, baseada no apólogo de Jotão, nos permite reconhecer que há sempre duas grandes escolhas presentes na vida dos homens: o governo de Deus (que Gideão defendera em palavras, mas recusara com seu gesto de auto-unção) ou o governo dos homens (o domínio dos espinheiros). A alternativa de escolhermos entre a oliveira, a figueira ou a videira não é uma oposição ao governo do espinheiro. Antes, são o compromisso do cristão diante de qualquer tipo de "árvore que paire" sobre a sociedade. A unção, a espiritualidade e os valores do cristão são realidades que devem resistir até mesmo ao fogo do espinheiro.
O espinheiro é sempre a alternativa do poder temporal, secular - quer seja político, social, econômico ou das armas. O espinheiro sempre "cospe fogo" (9.15) para exercer seu domínio, e punir os que lhe resistem. Todo sistema humano de representação de poder é babilônico, por definição da natureza dos poderes deste mundo. Entretanto, a presença do cristão o torna "sal e luz" neste mundo. O cristão planta o poder de Deus, através das oliveiras, figueiras e videiras "no arraial do inimigo" - sempre expostas ao fogo do espinheiro.
As nossas escolhas não mudarão a natureza do governo do espinheiro - com o qual as alianças são impossíveis de se fazer. A cristianização de uma nação (uma espécie de evangelização sem Cristo, pelo domínio dos meios políticos) não produz a justiça de Deus. Entretanto, a não-escolha significa que estamos escolhendo o espinheiro, por omissão. Se a nossa unção, espiritualidade e valores não podem ser a expressão viva do poder de Deus - inclusive nas escolhas políticas - então seremos consumidos pelo fogo do espinheiro...!
Queridos e amados irmãos, lendo esta mensagem vemos como é de extrema necessidade, estarmos envolvidos nas questões politicas, não só de nossa cidade, mas também de nosso estado e nossa nação, não vamos deixar os espinheiros reinar sobre nós, conto com suas orações e seu voto de confiança para que, junto, mudemos essa triste realidade de reino após reino de espinheiros. Deus abençoe a todos. Amem.
Pr. Renato Sanches.
Usada como fonte da verdade para as diversas áreas do conhecimento humano, a Bíblia se presta a defender pontos de vista até mesmo antagônicos. Assim é que, sendo aplicada como base de doutrinas, teologias, ideologias ou interesses, os homens dela extraem os fundamentos de suas "particulares interpretações".
Como resultado dessa miscigenação de texto sagrado com casualidades humanas, descobre-se uma vasta literatura defendendo os mais diversos pontos de vista. De fato, há suficientes porções da Bíblia que nos permitem verificar que o povo de Deus viveu e participou dos fatos políticos - ativa ou passivamente - nos diversos períodos da história. Há um desfile imenso de personagens que ocuparam posições e exerceram poder político, quer tenha sido em relação ao povo de Deus como sobre nações pagãs: José, Moisés, Davi, Daniel e outros mais.
Se há evidências bíblicas e históricas no cristianismo tanto dos benefícios e como dos riscos da participação política, o que fazer, então?
Dentre muitos textos bíblicos que possam nos fornecer alguns princípios para analisar este tema, recorro ao apólogo de Jotão, em Juizes, capítulo 9. Nele encontramos algumas luzes que podem iluminar o caminho das nossas decisões políticas.
JOTÃO, O SOBREVIVENTE
Gideão, juiz de Israel durante 50 anos, é mencionado em Hebreus 11.32 como um dos notáveis homens de fé no período do Velho Testamento. Não obstante tal reconhecimento, ele é citado também como exemplo de líder do povo de Deus que cedeu às pressões da idolatria. Ele manchou o final de sua vida com uma escolha que veio a "ser um laço... e à sua casa"(Juizes 8.27). Embora Gideão tenha resistido à tentação de aceitar a criação de uma dinastia real (8.22-23), a tal estola sacerdotal que fez para si representava a tentativa de usurpação de um poder maior ainda: o de ser o intermediário divino, o sacerdote.
O laço de Gideão logo se manifesta por meio de Abimeleque, um dos filhos de Gideão. Logo após a morte de seu pai, Abimeleque assassina sessenta e nove dos seus setenta irmãos - sobrevivendo apenas Jotão, que se escondera. A ânsia de poder provocou essa dissidência e Abimeleque proclama a cidade de Siquém - de onde sua mãe era originária - como um estado independente, chegando a dominar sobre todo o Israel durante três anos.
Jotão, compreendendo que a idolatria de seu pai agora se manifestava na rebeldia de Abimeleque, proclama a verdade aos moradores de Siquém: eles deveriam refletir sobre a escolha que estavam prestes a fazer, seguindo a Abimeleque.
A VOZ DO PROFETA
O discurso de Jotão começa com uma advertência: "Ouvi-me... e Deus vos ouvirá" (9.7). Os homens de Siquém estava prontos a seguir um de seus filhos notáveis - Abimeleque - mas não compreendiam o caráter profético da condenação que pairava sobre ele. Jotão tentava adverti-los a não seguirem Abimeleque, que caíra no laço de desejar inaugurar uma dinastia real para Israel.
Gideão havia recomendado a todo Israel: "Não dominarei sobre vós, nem tão pouco meu filho dominará sobre vós; o Senhor vos dominará" (8.23). Mas as suas palavras foram abafadas pelo seu gesto seguinte, assumindo um poder sacerdotal do qual não fora investido. Quando Abimeleque mata os seus irmãos e oferece-se como "dominador", o gesto de Abimeleque falando mais alto: a sede de poder!
Depreendemos desse primeiro ponto do apólogo de Jotão que toda dominação sobre o povo de Deus não pode ser derivada de palavra humana. Antes, qualquer decisão precisa resultar de uma convocação profética para a igreja, destinada a ser sal e luz do mundo. Não devem os cristãos, individual ou coletivamente, ceder a argumentos, mas reconhecer a sua vocação profética em cada momento e lugar que vivam.
A igreja que anuncia é a mesma que denuncia. O evangelho é perfume de vida, mas também perfume de morte. E Jotão começa a descrever tal forma de compromisso.
A OLIVEIRA
Os homens de Siquém compreendiam o significado dos elementos da paisagem rural da época - motivo pelo qual Jotão apelou para uma comparação singela, que todos pudessem compreender: os homens de Israel seriam as árvores e a oliveira seria uma primeira escolha de um tipo de rei, de governante. As árvores teriam dito à oliveira: "Reina sobre nós!". Mas, esta se esquivara, dizendo: "Deixaria eu o meu óleo, que Deus e o homem em mim prezam, e iria reinar sobre as árvores?" (9.9).
A oliveira é a árvore da qual se extraía, por meio da prensagem do seu fruto, o azeite. Ela tipificava a fonte da unção do povo de Deus. Era da oliveira que vinha o caráter sagrado dos ritos e da religião, pois ela fornecia o óleo através do qual coisas, pessoas e animais eram consagrados.
A recusa da oliveira é a representação de uma posição típica do povo de Deus em todas as épocas: "Nós, os pastores, o povo de Deus, a Igreja, não devemos nos envolver nestas questões de política, de escolher quem vai nos governar. Não devemos comprometer a nossa unção". A recusa da oliveira é o posicionamento do cristão diante da política quando diz: "Isto nada tem que ver comigo, não me afeta - ou até mesmo pode me contaminar. Deus tem prazer na minha unção - e a minha pureza é também apreciada pelos homens". Certamente, o argumento é justo, mas desconhece um perigo que será explicado mais adiante por Jotão.
A FIGUEIRA
A próxima alternativa para os homens de Siquém seria a figueira.
Uma curiosidade sobre a figueira nos permite entender porque tal árvore foi utilizada por Jesus como exemplo do que o pecado provocava em Israel: ela produz o seu fruto antes das folhas, ao contrário das demais árvores. Ela simbolizava, assim, a necessidade de uma espiritualidade verdadeira (os frutos), antes de uma religiosidade aparente (as folhas).
Esta era a próxima escolha que Jotão oferecia: "Se vocês rejeitam a Deus (desejando escolher um rei), e aos seus ungidos (a oliveira), pelo menos aceitem homens espirituais (figueiras com frutos). Mas, tal figueira não se apresentou disponível, se justificando: “Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, e iria pairar sobre as árvores”? (9.11).
A recusa da figueira é, também, um sinal justo de precaução diante de outra verdade historicamente comprovada: muitos cristãos, envolvendo-se na política, perdem a sua "doçura" (espiritualidade), o seu fruto é arrancado da sua vida. Mas, é suficiente este argumento para então recusar uma chamada ao desafio de participar do ato de "pairar sobre as árvores" (governar, em algum sentido)? Igualmente, Jotão irá concluir que, não obstante a verdade do argumento da figueira em não se envolver, a sua recusa implicava em um perigo maior ainda.
A VIDEIRA
A terceira alternativa oferecida por Jotão foi a videira - uma parreira de uvas.
Há mais de uma dezena de palavras em hebraico e grego para designar o que entendemos biblicamente como videira. Este fato realça um dos símbolos da videira, em termos bíblicos: prosperidade sobre toda a nação. Isto é, o vinho - resultado de prensar o fruto da videira - é o elemento presente nas festas, o símbolo da alegria. A diversidade dos frutos expressa nas muitas expressões da língua para representar a videira - típico de cada região e clima - alude ao fato de que as videiras se espalharam sobre todo o Israel. Era, assim, a prosperidade, a alegria, a paz, a força de Israel. A videira simboliza, deste modo, a bênção de Deus repartida sobre o Seu povo, o cumprimento das Suas promessas sobre a nação obediente. É a vitória dos valores divinos sobre os valores humanos.
Quando Jotão conta aos homens de Siquém que as árvores se contentariam apenas com a videira ("bons cristãos") para "pairar sobre as árvores", também lhes fala da recusa da videira: "Deixaria eu o meu vinho (os meus valores, as minhas bênçãos, a minha prosperidade)...?
A recusa da videira representa o argumento de que as bênçãos de Deus e a prosperidade dos cristãos não devem ser desperdiçadas em "negócios deste mundo". Aparentemente, esta prudência se justificaria, mas ela ‘desconhece o perigo que, finalmente Jotão proclama’ aos moradores de Siquém.
O GOVERNO DO ESPINHEIRO
Somente ao sermos apresentados à opção do governo do espinheiro é que compreendemos que as três primeiras alternativas compunham três diferentes grupos de preferências, mais do que uma hierarquia de escolhas. Isto é, algumas árvores procuraram a oliveira; outras, a figueira; e outras mais, a videira. A ordem não especificaria uma distinção hierárquica entre unção, espiritualidade e valores. Ao contrário, as alternativas apresentadas por Jotão procuram relevar a necessidade da presença e preservação desses valores em todas as escolhas do cristão.
Mas, no caso do espinheiro, a escolha foi unânime: "...todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós". A linguagem não é mais uma amenidade - "pairar sobre nós", como que a demonstrar um certo nível de igualdade e tolerância entre as árvores. Não é um grupo aceitando um domínio consentido da oliveira, da figueira ou da videira sobre todas elas. Mais do que um consenso, o convite ao espinheiro é uma permissão expressa: "Vem tu [espinheiro], e reina sobre nós". Não há engano nessa escolha, pois a unanimidade dos participantes e a concordância de propósito atestam o caráter de uma decisão fruto de uma vontade coletiva. Jotão assim descreve como tal escolha parecia ter sido feita pelos habitantes de Siquém: "de verdade e com sinceridade" (9.16).
Diferentemente das árvores anteriormente convidadas, que centralizaram nas suas qualidades um argumento de recusa, o espinheiro realça a natureza do relacionamento que estaria por se tornar realidade. “A oliveira não quis comprometer a sua unção... A figueira declarou-se zelosa de não arriscar a sua espiritualidade... Enfim, a videira não arriscou desperdiçar os seus valores”. Mas o espinheiro, este foi ao ponto principal e disse: "Se vocês estão me escolhendo, saibam que eu vou assumir domínio sobre vocês!". Mesmo diante desta advertência, Abimeleque foi proclamado rei.
ESCOLHAS E NÃO ESCOLHAS
Uma análise simples, baseada no apólogo de Jotão, nos permite reconhecer que há sempre duas grandes escolhas presentes na vida dos homens: o governo de Deus (que Gideão defendera em palavras, mas recusara com seu gesto de auto-unção) ou o governo dos homens (o domínio dos espinheiros). A alternativa de escolhermos entre a oliveira, a figueira ou a videira não é uma oposição ao governo do espinheiro. Antes, são o compromisso do cristão diante de qualquer tipo de "árvore que paire" sobre a sociedade. A unção, a espiritualidade e os valores do cristão são realidades que devem resistir até mesmo ao fogo do espinheiro.
O espinheiro é sempre a alternativa do poder temporal, secular - quer seja político, social, econômico ou das armas. O espinheiro sempre "cospe fogo" (9.15) para exercer seu domínio, e punir os que lhe resistem. Todo sistema humano de representação de poder é babilônico, por definição da natureza dos poderes deste mundo. Entretanto, a presença do cristão o torna "sal e luz" neste mundo. O cristão planta o poder de Deus, através das oliveiras, figueiras e videiras "no arraial do inimigo" - sempre expostas ao fogo do espinheiro.
As nossas escolhas não mudarão a natureza do governo do espinheiro - com o qual as alianças são impossíveis de se fazer. A cristianização de uma nação (uma espécie de evangelização sem Cristo, pelo domínio dos meios políticos) não produz a justiça de Deus. Entretanto, a não-escolha significa que estamos escolhendo o espinheiro, por omissão. Se a nossa unção, espiritualidade e valores não podem ser a expressão viva do poder de Deus - inclusive nas escolhas políticas - então seremos consumidos pelo fogo do espinheiro...!
Queridos e amados irmãos, lendo esta mensagem vemos como é de extrema necessidade, estarmos envolvidos nas questões politicas, não só de nossa cidade, mas também de nosso estado e nossa nação, não vamos deixar os espinheiros reinar sobre nós, conto com suas orações e seu voto de confiança para que, junto, mudemos essa triste realidade de reino após reino de espinheiros. Deus abençoe a todos. Amem.
Pr. Renato Sanches.
Maravilhoso seu estudo pastor .Amei e vou estudar mais ainda Obrigada
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